domingo, 6 de junho de 2010

...continua...


Maria chorou três dias seguidos, ou melhor, três noites que durante o dia tinha de ir trabalhar, que os empregos não se compadecem com tristezas. Depois de ter tido sentimentos contraditórios sobre o seu ex-namorado, amante, amigo, resolveu encerrar o assunto no seu coração. Nesses três dias tinha sentido por ele o que nunca sentira em dez anos de relacionamento. Recordou o dia em que se conheceram num mini-curso de jardinagem. Olhava para ele e via um rapaz tímido mas com um brilho que lhe chamara a atenção. Foi atraída pelos seus olhos verdes e tristes. Durante a semana que o curso durou começaram a ir ao cinema, a ver espectáculos juntos, a descobrir interesses comuns. No final do curso continuaram a sair frequentemente até que, depois de um concerto, a timidez dele desapareceu e ambos se envolveram num ardente beijo que terminou em casa de Maria. Recordou os momentos de aflição que passou após o acidente de carro que ele teve depois de uma brutal discussão, recordou a mania que ele tinha de pôr um CD a tocar e de ouvir a mesma música vezes sem conta, uma e outra vez até enjoar, recordou as noites de amor que passaram numa casa que ele tinha na praia, recordou as reconciliações depois das zangas, os momentos únicos de conversa com os seus amigos artistas. Sentiu amor, raiva, desejo, saudades, desprezo até que chegou a indiferença. Aí percebeu que era o momento certo para guardar numa gaveta todas as fotografias dele que tinha espalhadas pela casa. Resolveu esquecer de vez aquele amor intenso mas conflituoso.
Ligou às amigas e saiu...

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