segunda-feira, 22 de março de 2010

A História de uma terra soalheira

Era uma vez uma terra muito pequenina e soalheira que tinha os habitantes mais simpáticos e hospitaleiros do planeta. Mas estes queridos liliputianos eram também os mais tristonhos de toda aquela terra e arredores.
Tinham vivido anos e anos com medo, sem autorização para falarem, para escreverem o que sentiam, para fazerem desenhos ou para cantarem as canções de que gostavam. Nem sequer podiam fazer festas na rua com os amigos e celebrar as alegrias da vida!
Com o passar do tempo, os simpáticos habitantes daquela terra muito pequenina e soalheira, muito simpáticos e hospitaleiros, foram ficando desiludidos. Desiludidos quer dizer que tinham ilusões, sonhos e desejos e que, com o passar do tempo tiveram de os esquecer para se dedicarem às preocupações do dia-a-dia e a fazer só o que lhes mandavam.
As liliputianas cuidavam dos liliputianozinhos e da liliputicasa enquanto que os seus maridos liliputianos iam trabalhar em fábricas e empresas para os liliputianozões, pois precisavam de comprar comida para a sua família lilipute.
Gostavam de reunir a família em casa a ouvir uma música em que, diziam, as guitarras gemiam em pranto e os cantores faziam chorar as pedras da calçada.
- Mas que estranho! Como podem chorar as belas calçadas liliputianas se têm uma beleza sem par e ainda por cima não têm olhos?!
Diziam os pequenos liliputianos incrédulos com aquelas observações. Ugégé ugégé, diziam eles com um tom falsamente triste quando queriam gozar toda aquela melancolia.
Alguns habitantes desta terra muito pequenina e soalheira foram obrigados a ir para outras terras muito grandes, soalheiras e quentes, fazer uma guerra que não percebiam muito bem para que servia, sabiam que eram apenas soldadinhos à espera do chumbo.
Voltavam uns, outros por lá ficavam sem usarem o bilhete de regresso no paquete Príncipe Perfeito e nunca mais viram a sua terra muito pequenina e soalheira que tinha os habitantes mais simpáticos e hospitaleiros do planeta.
Um dia, um liliputiano mais afoito resolveu abanar os liliputianozões e candidatar-se a presidente daquela terra muito pequenina e soalheira que tinha os habitantes mais simpáticos e hospitaleiros do planeta. Mas logo, numa viagem à terra vizinha, - que era maior e com habitantes menos hospitaleiros mas também menos tristonhos – foi banido daquele mundo. Os seus conterrâneos lá se recompuseram do choque e continuaram as suas vidinhas monótonas e tolhidas pelo medo, por muitos e longos anos.
Lá andaram, andaram, no ram-ram (que não é uma memória de computador mas sim uma forma peculiar de viver o dia-a-dia sempre igual), até que, uns anos depois de uma tal primavera diferente das outras, um grupo de soldadinhos, que não eram de chumbo mas de força, resolveu pegar nuns carros de chá e mate e rumar até à capital daquela terra com uma intenção: devolver aos liliputes a vontade de viver, a liberdade para cantarem e dançarem canções sem que uns senhores vestidos de preto e com uns chapéus de feltro os incomodassem. Assim foi. Os soldadinhos juntaram as suas pequenas forças com as pequenas forças de outros soldadinhos e com o poder mágico de uma flor vermelha usada por aqueles habitantes, conseguiram, todos juntos, que o liliputianozão que mandava naquela terra muito pequenina e soalheira que tinha os habitantes mais simpáticos e hospitaleiros do planeta, se fosse embora para uma terra do outro lado do grande mar, uma terra também com muito sol mas habitantes muitíssimo mais felizes mas onde, este artista de barriga tesa com certeza nada de mal poderia fazer.
O que se seguiu àquela festa pá, foi maravilhoso! Durante um tempo os habitantes daquela terra foram felizes, diziam o que lhes apetecia, cantavam a alta voz, cultivavam terras, amavam-se uns aos outros, enfim, eram felizes. Mas com o passar do tempo voltaram as tristezas, os pesadelos, o sofrimento. Ninguém conseguiu explicar por quê, mas se calhar é da natureza dos habitantes daquela terra muito pequenina e soalheira eram os mais simpáticos e hospitaleiros do planeta mas também os mais tristonhos de toda aquela terra e arredores.

1 comentário:

  1. Uma história pequena, soalheira, simpática...e triste. Uma verdadeira história liliputiana :)
    bjs mjoao

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